As mulheres enfermeiras sempre existiram, desde tempos
imemoriais, circulando de casa em casa, de cidade em cidade; cuidando de outras
mulheres, crianças, idosos, enfermos, deficientes e pobres. Esses cuidados de
enfermagem incluíam partos, assistência aos recém-nascidos, ensino de higiene,
realização de curativos e oferecimento de apoio, entre outras atividades.
Os saberes relacionados ao ato de cuidar eram passados de mãe
para filha, de geração para geração, de comunidade para comunidade. Essas
cuidadoras desenvolveram grandes conhecimentos ligados aos ossos e músculos, a
ervas e drogas. Paracelso, o pai da medicina moderna, admitia ter aprofundado
seus estudos de farmacologia baseado no conhecimento adquirido com elas.
Aos olhos da Igreja, o poder das mulheres que curavam
decorria de sua sexualidade, esses poderes eram condenados como algo que
provinha do diabo. Assim foram acusadas, nos processos de feitiçaria, de
cometer crimes sexuais contra homens, de serem organizadas e, por fim, de
possuírem poderes mágicos que afetavam a saúde, podendo tanto curar como
prejudicar.
Para o povo, as enfermeiras eram conhecidas como “sábias”;
para as autoridades, feiticeiras e/ou charlatãs. Com esse conceito, no século
XIII, os Estados, junto com igrejas (católicas e protestantes) realizaram um
movimento de extermínio de mulheres, e alguns homens, que detinham o “poder de
curar”. Esse extermínio durou quatro séculos (do XIV ao XVII). Esse período
marca a desapropriação do poder do conhecimento dessas mulheres em relação à
saúde e corpo.
Apesar desse extermínio, as parteiras conquistaram um espaço,
tendo sua definição pelo Tratado de SORANUS DE MULIERUM PASSIONIBUS: “Parteira
é toda mulherer que examina as mulheres, instruída e perita na arte de tratar
com eficiência, de tal maneira que é capaz de curar-lhes todas as doenças”.
Mesmo com este reconhecimento, as parteiras teve seu
desprestigio (inicio) no fim do século XI, com o fortalecimento da Igreja
Católica. As parteiras autônomas resistiram até 1835.
Uma lei promulgada pelo parlamento britânico, em 1902, pôs
fim ao exercício profissional autônomo das parteiras, que passaram a ser
submetidas a seleção e cadastramento, só podendo realizar partos sob supervisão
médico.
No período entre os séculos XVII e XIX, nossas ancestrais
(parteiras e cuidadoras) perderam a vida na forca ou fogueira. Neste mesmo
período, quase não há registro que enfatizam a existência das enfermeiras; é
enfatizada a existência de mulheres pobres e sem estudo e qualificação, que
cuidavam de doentes e viviam nos hospitais, lembrando que nesta época, as
condições de vida eram intoleráveis.
A Igreja passa a assumir a tarefa de cuidar dos enfermos; e
começam a criar “escolas” em conventos. Com isso, os primórdios da enfermagem
que conhecemos hoje se devem principalmente à Confraria das Filhas de Caridade
de São Vicente de Paulo, na França, e ao Instituto das Diaconisas de
Kaiserswerth, na Alemanha, que treinavam mulheres para cuidarem de enfermos e
se tornarem eficientes na arte da enfermagem.
Em meados do século XIX, ocorreram muitas reformas no reino
britânico, tendo se distinguido como reformista da saúde Florence Nightingale,
precursora da enfermagem moderna, cujo nome está entre os humanistas que
mudaram o mundo. Ela criou a primeira escola de enfermagem profissional,
transformando a enfermagem em ciência/arte, constituída pelo raciocínio e pela
experiência. Florence com sua coragem, determinação e inteligência, transformou
tanto o modo como as pessoas encaravam as enfermeiras quanto o tratamento que
era dispensado às mulheres.
Destaca-se, ainda, nessa época, a atuação da enfermeira Ethel
Bedford-Fenwinck, fundadora, em 1887, da Associação Real de Enfermeiras
Britânicas e, em 1889, do Conselho Internacional de Enfermagem (ICN).
No Brasil, registra-se um fato inédito quando Anna Justina
Ferreira Néri, baiana de 51 anos, movida por sentimentos humanitários e de mãe,
já que seus três filhos foram para a guerra do Paraguai, decidiu ir prestar
cuidados aos combatentes nesta Guerra. Na frente de batalha, distinguiu-se,
prestando relevantes serviços aos combatentes durante cinco anos.
Até o inicio do século XX, a enfermagem praticada no Brasil
era exercida por religiosas, enfermeiras estrangeiras de famílias de
diplomatas, pastores protestantes, pessoas formadas pela escola de enfermeiros
do Hospital Nacional de Alienados e pela Escola Cruz Vermelha Brasileira,
visitadoras treinadas por sanitaristas e atendentes que adquiriam conhecimentos
nos hospitais da época.
O paradigma da enfermagem dessa época enfatizava valores
relacionados ao amor, abnegação e desprendimento, desprezando a luta por
remuneração digna, condições ambientais de trabalho adequadas, inserção na vida
social e politica, e desenvolvimento intelectual.
Em 27 de setembro de 1890, o marechal Deodoro da Fonseca
assinou o Decreto 791, que criou essa escola de enfermagem, destinada a formar
enfermeiros para prestar assistência aos alienados e executar serviços civis e
militares.
Em 1921, graças ao esforço de Carlos Chagas, então diretor do
Departamento Nacional de Saúde Pública do Ministério da Defesa, foi trazida dos
Estados Unidos, com o apoio da Fundação Rockefeller, uma missão com nove
enfermeiras para, entre outras atividades, organizar uma escola e o serviço de
enfermagem de saúde pública do Rio de Janeiro. Essa missão permaneceu por dez
anos nesse estado (1921-1931).
Em 1926, em reconhecimento aos trabalhos prestados por Ana
Néri durante cinco anos, como voluntária da Guerra do Paraguai, o governo
designou essa nova escola de Escola de Enfermeiras Dona Ana Néri.
Em 1931, no governo de Getúlio Vargas, foi promulgada a
primeira lei do exercício da enfermagem (Decreto 20.109), que considerou a
Escola oficial padrão.
Com o passar do tempo, constatou-se que o número de
enfermeiras formadas não era suficiente para atender à demanda do mercado de
trabalho. Surgiu assim a necessidade de preparar um novo tipo de profissional
para assumir funções de menor complexidade no interior da profissão. A
enfermeira Laís Netto dos Reis implantou, em 1941, na Escola Ana Néri, o
primeiro curso de Auxiliares de Enfermagem, que rapidamente se expandiu pelo
país inteiro. No final da década de 1960, a enfermeira Ciley C. Rodus implantou
o curso de Técnicos de Enfermagem, que não obteve tanto o mesmo sucesso que o
anterior. Em 1962, o ensino da enfermagem passou a integrar o sistema de
formação do ensino Universitário público.
As escolas de enfermagem permaneceram femininas até o advento
do vestibular unificado e classificatório, exceção feita à Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto, da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio), que sempre foi
mista. Com o vestibular classificatório abriu-se espaço para a entrada dos
varões nos cursos de graduação.
No cenário brasileiro destacou-se o trabalho de Wanda de
Aguiar Horta, da Escola de Enfermagem da USP, como a primeira enfermeira que
ousou formular uma teoria de enfermagem, apresentada em 1968 em concurso
público de livre-docência na Escola de enfermagem da UFRJ, intitulada: A observação sistematizada na identificação
dos problemas de enfermagem nos seus aspectos físicos.
Referência: LIMA, Maria José de; O que é enfermagem; 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.
Sou advogado por mais de trinta anos, fui administrador de um hospital de trauma da cidade de Campina Grande-Pb, e posteriormente fui nomeado para auditor jurídico, nessa oportunidade, como tal,deveia presidir inqueritos administativos para apurar faltas graves naquele nosocômio. Daí vi a necessidade de aprender as técnicas e termos médicos para melhor desenvolver meus misteres ,foi quando sem nenhum preconceito me matriculei no curso de técnico de enfermagem. Confesso que me apaixonei pela matéria . Exerci minha tarefa,com dignidade graças ao curso. Tanto é que, agora estou matriculado no curso de Enfermagem da Faculdade Maurício de Nassau na cidade de Campina Grande-Pb.
ResponderExcluirCaro Paulo Figueiredo! É com muita alegria que leio o seu post, pois histórias como a sua só me motiva cada dia mais e valoriza essa profissão tão importante e que ainda é tão pouco valorizada, até para alguns profissionais. Este blog foi feito para contribuir na formação de pessoas que assim como eu, são apaixonadas por esta profissão. O que vejo de diferente e pesquisas e trabalhos que faço, acredito que não devem ser perdidos e sim compartilhados!
ExcluirSeja muito bem vindo!
E lembre-se, a Enfermagem é a arte de Cuidar!!
OBS.: Se inscreva no blog e receba novidades!!
Beijuuuu ^^
SOU SOCIOLOGO, TENHO TAMBÉM MUITO PRAZER EM APRENDER ESTA AREA.
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